domingo, 18 de novembro de 2012

Último olhar




O OLHAR
O último olhar do condenado não é nublado
sentimentalmente por lágrimas
nem iludido por visões quiméricas.
O último olhar do condenado é nítido como uma fotografia:
vê até a pequenina formiga que sobe acaso pelo rude braço do verdugo,
vê o frêmito da última folha no alto daquela árvore, além...
Ao olhar do condenado nada escapa, como ao olhar de Deus
- um porque é eterno,
o outro porque vai morrer.
O olhar do poeta é como o olhar de um condenado...
como o olhar de Deus...
                                     
 Mário Quintana                       
 poema do livro Báu de Espanto

sábado, 10 de novembro de 2012

Para Além da Interpretação

http://desconstrucaodoolhar.blogspot.com.br/

Gumbrecht lembra que existem outras formas de apropriação do mundo que ultrapassam a interpretação. Ele fala em “comer o mundo” (2004, p. 86/ Production of Presence), comer as coisas do mundo, como na antropofagia. Da mesma forma, descreve o “penetrar o mundo” (2004, p. 87/
Production of Presence). A sexualidade, a agressão, a destruição são formas de fusão com o mundo ou com outros corpos. E “possuir o mundo” (2004, p. 89/ Production of Presence), como forma de misticismo, como desejo de consciência plena, na qual se tem uma possessão do mundo ou dos espíritos do mundo, trata-se de uma crença na perda de si mesmo.

 
 

Assim, os Estudos da Presença através do registro da ação fotográfica não é uma disciplina, mas uma abordagem, uma tentativa de minimizar as interpretações como única forma de análise das práticas performativas e de incluir os processos criativos no centro da discussão. Tarefa sempre provisória, é claro, mas que convida também os próprios
artistas a darem voz a um tipo de pesquisa que não é a simples descrição de fatos e acontecimentos, mas uma polifonia de visões e movimentos.




"Creio que só se pode ensinar o amor por algo. Eu não ensinei literatura inglesa, mas sim o amor por essa literatura. Ou melhor dizendo, já que a literatura é virtualmente infinita, o amor por certos livros, por certas páginas, talvez por certos versos. Ditei essa cátedra durante vinte anos na Faculdade de Filosofia e Letras. Dispunha de cinqüenta a quarenta alunos, e quatro meses. O menos importante eram as datas e os nomes próprios, mas consegui ensinar-lhes o amor por alguns autores e por alguns livros. E há autores, bem, dos quais eu sou indigno, então não falo deles. Ou seja, o que faz um professor é buscar amigos para os estudantes. O fato de que sejam contemporâneos, que estejam mortos há séculos, de que pertençam a esta ou aquela região, isso é o de menos. O importante é revelar beleza e só se pode revelar a beleza que se sente". Jorge Luis Borges

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Interpretar e organizar o mundo não quer dizer conhecê-lo, mas criá-lo.

 
 

A arte possibilita inúmeras ações dentro de um contexto fragmentado, inclusive, para um novo olhar que pense a contemporaneidade. A promessa do Iluminismo foi à liberdade, a autonomia, a felicidade através do conhecimento. No texto “Afinal o que são as luzes” trazido por Foucault, discuti a saída do homem de sua minoridade da qual ele próprio é culpado, num otimismo e crença no progresso industrial e que, portanto nos levaria a autonomia. Estamos sentindo hoje os resultados desses ideais, na discrepância social, na industrialização excessiva, na natureza, enfim, na educação. Apesar das discuções sobre o que acreditamos, percebemos o quanto somos ainda iluministas, e que o discurso pedagógico se fundamenta em ideias iluminista. Um exemplo de um pensador brasileiro que rompe com esse processo fechado é Paulo Freire, acreditando na crença na emancipação, na educação para a libertação, na educação para a autonomia. Criar um sujeito autônomo, universal, capaz de por ele mesmo modificar sua realidade, ainda são ambições da educação.

domingo, 16 de setembro de 2012

... sensibilidade que fabrica juízes mais do que fazer possível a criação de artistas.


O consolo da função da arte não está na compreensão, nem no adestramento artístico, nem adestramento formal. Estas atitudes que a arte contemporânea tráz funcionam como interruptores da percepção da sensibilidade, do entendimento. Funcionam como um descaminho do que é conhecido. Diferente de certo consolo que se busca nas artes. 

Nietzsche e os “homens sérios”: a arte não é um divertido acessório, não é um tintinar de guizos que se pode dispensar diante da seriedade da existência. A arte apolíneo-dionisíaca assume (e não esconde) a tragicidade da existência, que só se justificaria como fenômeno estético. A arte não serve para consolar, confortar, acalmar as vontades, mas pelo contrário. Esse interruptor de percepção da arte não é elevar-se espiritualmente. A formação estética que podemos pensar a partir de um ideal é de outra ordem, que não tem uma moral, uma finalidade moral nos esperando para nos confortar, um thelos definido, onde pretendo chegar. 

As ideias aqui expostas são tentativas de excitar a desconfiança dos modelos instituídos, que há muito tempo estão falidos. Modelo de “sensatez pedagógica escolarizada” (Jódar, Gomez, 2004). “O cenário de uma máquina conservadora de repetições e recorrências”, uma “máquina produtora de sensatez mais do que sensibilidades” ou produtora de uma sensibilidade que “fabrica juízes mais do que fazer possível a criação de artistas” (Obregón, 2007).

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

De Escola Normal Católica para Colégio Senador Alberto Pasqualini


         Prédio imponente construído em Hamburgo Velho, Novo Hamburgo, em estilo Art déco, com características do início do modernismo, mas com toques monumentais (influência da arquitetura da época). O arquiteto foi Christino de La Pax Gelbert, contratado por uma associação católica alemã. A execução ficou a cargo dos empreiteiros de mão de obra João B. Pastro e Antonio Lemosconforme atesta o projeto original.


         No início do século passado funcionava na área onde hoje está localizado o Colégio Estadual Senador Alberto Pasqualini a cervejaria de Maximiliano Fischel, que ofereceu à Sociedade União Popular as terras de sua propriedade, que totalizavam 11,23 hectares.
        
        


          
         Em 1929 surgiu a Escola Normal Católica, tendo como diretor, o professor Kurt Dudzig. As aulas eram dadas na própria ex-cervejaria. Mais tarde, quando já havia sido construído o novo prédio (parte frontal principal) existente até hoje, foi então derrubada a sede da ex-cervejaria, buscando espaço para a instalação de um adequado pátio escolar. Em 15 de dezembro de 1931 foi inaugurado o novo prédio. Tendo uma jornada de oito décadas desde sua criação.

            De 1933 a 1939 a direção da escola esteve a cargo do padre jesuíta Miguel Maier, porém em 25 de julho de 1939, data de comemoração da imigração alemã no Brasil, houve um incidente, que causou o encerramento das atividades da Escola. Um aluno fez um discurso enaltecendo o povo alemão, porém estava presente nessa ocasião o Dr. Coelho de Souza, então secretário da Educação do Estado, que se sentiu provocado e desafiado na sua campanha de Nacionalização, que significava o banimento da língua alemã. E o resultado disso foi o encerramento das atividades da Escola, prolongando-se durante todo o período da Segunda Guerra Mundial.
 

 Em 1939, algumas das personalidades e influências políticas da época, envolvidos diretamente no episodio do
discurso, dentre eles, da direita para a esquerda: Dr. Guilherme Becker, Sr. Guilherme Ludwig, Guilherme Leopoldo Vielitz,
prof. Kurt Walzer, Sr. Grün, bem a frente, com gravata borboleta e sobretudo, Albano Volkmer, atrás um garoto possivel
aluno, ao lado esquerdo o secretário de Educação Estadual Dr. Coelho de Souza e ao lado direito de Albano o Dr. Odon
Cavalcanti Carneiro Monteiro, prefeito de Novo Hamburgo (Identificação com auxilio da professora Wanda Therezinha de
Oliveira).
Fonte: acervo professor Kurt Walzer disponível em http://kurtwaltzer.eu5.org/fotos.html



        
         A fase atual da Escola começou em 1945 quando o Governo comprou da Sociedade União Popular o que pertencia a Escola Normal Católica de Hamburgo Velho. Tendo início assim a Escola Vocacional Agro-Industrial que era subordinada ao SESME (Serviço Social de Menores) recebendo órfãos, menores abandonados e adolescentes problemáticos. Por isto chamavam-na de Reformatório. Em 1960, tornou-se Ginásio Industrial Senador Alberto Pasqualini (GISAP), funcionava em turno integral e preparava adolescentes para a profissionalização. Além do ensino ginasial havia aulas práticas profissionalizantes, aos meninos oferecia: sapataria, mecânica, gráfica, fundição, marcenaria e para as meninas: culinária, corte e costura, puericultura, bordado, trabalhos manuais. Tornou-se, em 1975, escola de 2º grau, funcionando os cursos: técnico de decoração e desenhista mecânico, 1977, agrega o técnico em mecânica. No ano de 1982, foi autorizado o funcionamento da habilitação de Auxiliar de Escritório e a de técnico Musical. 

         A partir de 1981 chama-se Escola de 1º e 2º Graus Senador Alberto Pasqualini e em 2000, Colégio Estadual Senador Alberto Pasqualini. Referencias Suzana Vielitz de Oliveira.

         Em 23 de setembro de 2003 foi tombado pelo Patrimônio Cultural e Histórico do Estado do RS o prédio e a área pertencentes ao Colégio Estadual Senador Alberto Pasqualini, através do Projeto de Lei Nº 102/2003 do Deputado Paulo Azeredo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012


           Entendo que, interpretar e organizar o mundo não quer dizer conhecê-lo, mas criá-lo. A potência, o desejo de expandir-se, o poder de criar, de crescer, de vencer as resistências é que impulsiona o movimento da vida. Precisamos realimentar nosso ímpeto criador, sem o qual não sobreviveríamos. Criação e necessidade é um par inseparável para o artista ou professor. É importante ainda enfatizar que, para haver ação criadora, é indispensável uma condição fisiológica prévia: a embriaguez. Esse estado de plenitude através do qual nós transfiguramos as coisas, nós as elaboramos imaginativamente até que reflitam nossa própria plenitude e nosso próprio prazer de viver. (Dias, 2011, Nietzsche, vida como obra de arte).

 
            Com as experiênciações da arte e sua diversidade leva-nos a uma mutação onde as interferências destes expectadores, participantes ou participadores vão configurar o que se chama obra. Esses simbolismos que desenvolvemos através das artes nos permitem ir ao cotidiano, viver as nossas próprias experiências de maneiras mais diversificadas. A figura do artista na arte contemporânea muda desse lugar do autor, dono da sua obra, para um lugar transitório, onde começa a fazer parte do processo e a ideia desse sujeito artista se dissolve.